Profissionais indígenas ajudam no combate ao
coronavírus em Roraima
Enfermeira diz que há aldeias bem distantes, só com acesso aéreo |
São
cerca de 50 mensagens diárias trocadas entre a enfermeira Letícia Monteiro e os
indígenas das etnias Wai Wai, Macuxi, Taurepag, Wapixana que vivem nas regiões
Murupú, Wai Wai e Surumú, em Roraima, sobre o novo coronavírus (covid-19). Ela
é responsável pelo monitoramento dessas comunidades e, além de checar se há
alguém com algum dos sintomas da doença nas regiões, ela tira dúvidas e
transmite orientações.
Indígena
do povo Taurepag, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, localizada também em
Roraima, Letícia tem 44 anos e é uma das enfermeiras da Divisão de Atenção à
Saúde Indígena (Diasi) do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Leste
Roraima, ligada à Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai) do Ministério
da Saúde.
“A
pandemia é bem preocupante. Existem aldeias em regiões bem distantes, só com
acesso aéreo. Se a doença chegar lá, há o risco de a pessoa não conseguir
chegar a tempo à cidade”, diz. “Além disso, a população indígena não tem
isso de cada um ficar na sua casa. Todo mundo fica junto, têm famílias que
moram juntos pais, filhos, filhos já casados e netos. Uma casa comporta 15, 20
pessoas. A comunidade se reúne para comer, para conversar. Há um risco muito
grande de contaminar todos de uma vez”.
Até a
realização da entrevista não havia casos registrados na região monitorada por
Letícia. A própria enfermeira, no entanto, estava isolada em casa, em Boa
Vista, por apresentar alguns dos sintomas da covid-19 após ter contato com uma
pessoa que testou positivo para o vírus. Ela apresentou apenas sintomas leves e
segue fazendo o monitoramento em casa.
“Primeiro,
a gente sente uma grande preocupação e, depois, uma impotência por não ter
todos os materiais, todos os epi [equipamento de proteção individual]. Agora
que eles estão chegando”, diz Letícia.
O
Conselho Indígena de Roraima (CIR) também monitora a pandemia do novo
coronavírus e oferece apoio às comunidades indígenas. “Elaboramos um projeto
emergencial para apoiar as lideranças indígenas no combate ao coronavírus nas
entradas das terras indígenas. Também estamos arrecadando recursos para a compra de cestas básicas e
material de higienização. Estamos recebendo das lideranças solicitação de
material para confecção de máscaras dentro dos territórios”, explica a
secretária-geral do Movimento das Mulheres Indígenas do CIR, Maria Betania Mota
de Jesus, que é da etnia Macuxi.
“É
estranho para nós, povos indígenas, o isolamento social porque a gente vive na
coletividade. Mas, é necessário fazer isso, ter essa força tarefa para
conscientizar a ter cuidado com aglomerações”, diz. Segundo ela, o próprio CIR
cancelou todas as atividades e reuniões agendadas para os próximos dias.
Desde o
mês passado, para tentar conter o avanço da doença, comunidades indígenas fecharam o acesso ao território e estão controlando a
entrada de pessoas.
Em
Roraima, segundo dados parciais da Sesai, são mais de 342 comunidades, com
população de 70,6 mil indígenas dos povos Macuxi, Wapichana, Ingarikó,
Patamona, Taurepang, Wai Wai, Yekuana, Yanomami, Sapará, Pirititi e Wamiri Atroari.
Publicado em 24/04/2020 - 06:22 Por Mariana
Tokarnia - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
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