Demanda
chinesa por minério de alta qualidade eleva prêmios pagos à Vale
A China
vem aumentando fortemente o consumo da commodity de maior teor contido, o que
favorece tanto a mineradora brasileira quanto sua maior concorrente, a
australiana Rio Tinto
Complexo da Vale em Carajás: responsável pela
produção do minério de ferro com alto teor, de 65,5%
FOTO: Salviano Machado/Agência Vale
Juliana
Estigarríbia • São Paulo
Publicado
em 11/10/18 às 05:00
O excesso de oferta global de
minério de ferro não tem sido um empecilho para que grandes players consigam
margens mais altas pelo produto de maior qualidade. Impulsionadas pela demanda
chinesa, a brasileira Vale e a anglo-australiana Rio Tinto conseguem obter
prêmios até 40% acima da média do mercado.
“A busca da China pelo controle
de emissões está bastante em evidência. Com isso, o prêmio para minério acima
da referência do mercado de 62% está alto”, explica o analista de siderurgia e
mineração da Tendências Consultoria, Felipe Beraldi.
Neste cenário, os dois maiores players
globais, a Vale e a Rio Tinto, estão se beneficiando dos prêmios obtidos pelo
produto da região de Carajás (PA) e Pilbara (Austrália), respectivamente.
Isso porque o minério de ferro de
maior qualidade reduz a necessidade do coque – altamente poluente – na produção
de aço. Beraldi estima que, nos últimos três anos, a China tenha fechado cerca
de 150 milhões de toneladas de capacidade de aço obsoleta.
A Vale informa que a participação
global da companhia nas vendas totais de produtos premium – que incluem
blendados, pelotas, Carajás, pellet feed e sinter feed de baixa
alumina – aumentou para 77% no segundo trimestre de 2018, contra 68% um ano
antes. “Devido à qualidade do minério de ferro produzido em Carajás, em média
65%, a Vale alcançou no segundo trimestre deste ano um prêmio recorde de US$
7,1 por tonelada”, disse a empresa em nota ao DCI. “Para se ter uma
ideia, o minério de ferro de Carajás é negociado por um valor 38% acima da
média do mercado”, salientou a companhia.
A mineradora destaca que,
enquanto o minério mais negociado no mercado (com teor 62%) está cotado em
aproximadamente US$ 70 a tonelada, o produto 65% de Carajás tem obtido ganhos
bem mais elevados. Atualmente, o minério da Vale é negociado a cerca de US$
96,40 por tonelada.
Oferta global
O analista da Tendências lembra
que, atualmente, a oferta global de minério de ferro ainda passa por um
processo de ramp up, puxado pela Vale, em Carajás, e pela Rio Tinto e BHP
Billiton na região de Pilbara, na Austrália.
“A demanda por aço no mundo está
desacelerando por conta da China, que está fortalecendo suas metas de redução
das emissões. Por outro lado, estímulos do governo chinês à infraestrutura e a
própria política antipoluição, que pede por minério de melhor qualidade, têm
equilibrado os preços do insumo de maior teor contido”, esclarece Beraldi.
Na semana passada, a gigante Rio
Tinto, maior concorrente da Vale no mundo, anunciou um investimento conjunto
com a Mitsui e a Nippon Steel & Sumitomo Metal de US$ 1,55 bilhão (sendo
US$ 820 milhões da australiana) para “sustentar a capacidade de produção de
dois projetos que fazem parte da joint venture na região de Pilbara.”
Segundo comunicado da Rio Tinto, o aporte reforça a marca “Pilbara Blend”,
minério de ferro de alto teor contido e que tem como principal destino o
mercado chinês.
Neste cenário acirrado de
competição, a Vale destaca que as minas de Carajás e do Complexo S11D Eliezer
Batista, em Parauapebas e Canaã dos Carajás, no Pará, são as responsáveis pela
produção de minério de ferro com alto teor (65,5%) e baixa concentração de
sílica da companhia.
De acordo com a Vale, o material
é adicionado aos finos dos sistemas Sul e Sudeste, cuja concentração de ferro é
menor, gerando um produto novo, o “Brazilian Blend Fines” (BRBF), lançado pela
empresa em 2015, que é misturado e vendido no Terminal Marítimo de Teluk Rubiah
(Malásia) da empresa e em 16 portos chineses, destaca a mineradora.
“Hoje, temos um quadro
confortável de oferta no mundo”, pontua Beraldi. No entanto, ele salienta que,
ao menos no curto prazo, não deve haver uma queda significativa dos preços do
minério de ferro. “Não enxergamos o insumo recuar a menos de US$ 60 a tonelada
neste e no próximo ano, mesmo com o mercado global bem abastecido.”
Para 2018, a Tendências projeta
preço médio da tonelada de minério de ferro em US$ 64,5, queda de 8,6% sobre o
ano passado. Em 2019, a expectativa é que a cotação média recue um pouco mais,
para cerca de US$ 62,6 a tonelada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário