Novas ferrovias da Vale motivam protestos no Senado
Por
Marcelo Villela, julho 5th, 2018,
Mais uma dor de cabeça para o
presidente Michel Temer no início do último semestre de mandato. Soou mal
no Senado o anúncio feito pelo governo na segunda-feira (2) de trocar a
renovação de mais 30 anos das ferrovias da mineradora Vale, no Pará e no
Espírito Santo, pela construção de novas linhas férreas no Centro-Oeste (Fico)
e em São Paulo (Ferrroanel).
Ex-presidente da Federação das
Indústrias do Pará, senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) ameaçou até
obstruir os trabalhos da Comissão Mista do Orçamento (CMO) para impedir votação
da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do próximo ano, prevista para a
próxima quarta-feira. Sem a votação da LDO, o Congresso não entra em recesso
parlamentar e impede a apreciação do Orçamento de 2019.
“Qualquer votação que haja, seja
encaminhada pela Presidência da República, a começar, eu, como primeiro
vice-presidente da Comissão de Orçamento, vou lá, sim, obstruir a CMO, enquanto
o presidente Temer não cumprir aquilo que é obrigação do governo brasileiro:
parte dos recursos da renovação serem aplicados no estado do Pará”, disse
Flexa, segundo a Agência Senado.
Ribeiro criticou o anúncio feito
pelo governo por meio do Programa de Parcerias de Investimento (PPI). Ele
destacou o projeto que previa a construção de uma ferrovia ligando Santana do
Araguaia, no extremo sul do Estado, ao Porto de Vila do Conde, em Barcarena, no
norte paraense, a 100 km de Belém. Seriam 1.300 quilômetros cortando 23
municípios paraenses, permitindo a verticalização do setor mineral.
“Fomos várias vezes, inclusive
eu, em audiência com o presidente Michel Temer, e disse a ele: ‘Presidente, não
somos contra a renovação da ferrovia da Vale, muito pelo contrário. Agora, não
é possível que esses recursos, que são tirados do Pará através da Lei Kandir
[legislação que isenta exportação], não sejam, parte deles, investidos na
ferrovia paraense”, explicou.
Flexa acrescentou que trabalhará
junto à bancada paraense para barrar a destinação de recursos para outros
estados.
Ação
judicial
Em discurso, Jader Barbalho lembrou que o Pará
contribuiu para as exportações brasileiras como a “maior província mineral” do
país e disse que pretende marcar uma audiência com a Presidência da República e
também recorrer ao Judiciário para evitar que o Estado seja prejudicado pela
decisão.
“O Pará é superavitário no que
diz respeito à questão de exportação e de importação, e nós pagamos por isso. A
Vale tem a maioria dos seus projetos fundamentais localizados no Estado do Pará
e eu não aceito isso de forma alguma, assim como, creio, todos os paraenses,
por uma questão de justiça para conosco”, comentou.
Já o senador Ricardo Ferraço
(PSDB-ES) antecipou que o Espírito Santo também tentará impedir o investimento
de recursos na Região Centro-Oeste, pois isso significaria o fim dos planos de
construção de uma ferrovia prevista para ligar a capital capixaba, Vitória, ao
sul do Estado. A obra de expansão do Complexo Siderúrgico de Tubarão ao futuro
Porto Central havia sido confirmada pelo governo federal no ano passado.
“Não é possível que o Espírito
Santo fique com o apito do trem e os investimentos possam ir para outros
estados. Isso não é justo. Por isso mesmo, estou solicitando uma audiência ao
Presidente da República. Estou aguardando deferimento para que eu possa tratar
desse assunto que está chamando a atenção dos capixabas e dos paraenses. É
preciso parar essa marcha da insensatez – enfatizou.
O crime
do superfaturamento
Não houve acordo e a criação do
superfaturamento foi mantido no parecer do relator da nova Lei de Licitações,
deputado João Arruda (MDB-PR). Ele não fechou acordo com os deputados Edmar
Moura e Evandro Roman, ambos do PSD do PR, defensores da indústria da construção
civil, e manteve a proposta apresentada pelo Ministério Público Federal sobre o
crime de superfaturamento e também a definição de obras grande vulto para
aqueleas com valor até R$ 200 milhões, com valor maior de garantia.
O texto de Arruda cria o Portal Nacional de
Contratações Públicas, que deverá ser instituído pelo Executivo federal e
adotado por todos os poderes de todos os entes (União, estados e municípios). O
parecer cria ainda a figura do agente de licitação, responsável na
administração pública por conduzir o processo licitatório e acompanhar a
execução contratual. O agente deverá ser servidor ou empregado público do
quadro permanente do órgão. Ele será auxiliado por uma equipe, mas responderá
individualmente por seus atos. A exceção ocorre se ele for induzido ao erro
pela equipe.
União da
esquerda
Representantes do PT, PDT, PSB,
Psol e PCdoB lançaram nesta terça (3) o manifesto “Por uma frente no Parlamento
compromissada com a reconstrução e o desenvolvimento do Brasil”. A iniciativa
pretende unir congressistas dos 5 partidos na Câmara dos Deputados e no Senado
em uma frente de esquerda. No entanto, a parceira não significa necessariamente
uma coalizão das candidaturas nas eleições proporcionais.
Na disputa pelo Planalto e pelos
governos estaduais, o grupo está dividido. Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos
(Psol) e Manuela D’ávila (PC do B) são pré-candidatos a presidente. Embora
esteja preso, o PT mantém a pré-candidatura de Lula e o PSB ainda não decidiu
quem apoiar.
Participaram do lançamento do manifesto
os dirigentes partidários Carlos Siqueira (PSB), Gleisi Hoffmann (PT) e Luciana
Santos (PCdoB).
Carlos Siqueira afirmou que a não
deverá haver uma união dos partidos no 1º turno das eleições. “Não estamos aqui
unidos em torno de candidatos, mas de ideias, como uma reforma agrária efetiva
e os direitos sociais garantidos na constituição. É preciso unir as forças da
esquerda, não só dos partidos, mas também dos movimentos sociais.”
Gleisi disse no evento que o
Congresso Nacional precisa fazer “uma autocrítica”. Para a senadora e
presidente do PT, não só os candidatos a cargos majoritários deviam participar
dos debates, mas também os candidatos ao Congresso.
“Se não tivermos uma bancada
progressista, desmontes do governo Temer como a emenda 95 [do teto dos gastos]
vão continuar”, disse a senadora.
Fonte: DCI
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