terça-feira, 10 de março de 2015

os tropeços da mineradora VALE em Carajás



Canadense dá nota zero para a segurança da Estrada de Ferro Carajás
E as impressões de James Bertrand eram, de fato, chumbo grosso para a mineradora. De cara, o canadense revelou que teve muitas dificuldades em obter informações, chegou a pedir ajuda da Vale, mas não teve seu pedido atendido.




O que a Vale temia, aconteceu. A mineradora, através de seus advogados, tentou silenciar, através da Justiça, o engenheiro ferroviário canadense James Bertrand para que ele não apresentasse o relatório de sua avaliação do sistema de segurança da Estrada de Ferro Carajás (EFC) durante a audiência pública promovida pelo Ministério Público Estadual do Pará na última quarta-feira, 25, para discutir o fenômeno “Meninos do Trem”. Mas a Justiça deu de ombros para a Vale e mandou tocar o trem, ou seja, que o relatório fosse apresentado.

Como parte do relatório, ele fez detalhamentos e orientações sobre fatos estranhos que identificou, o funcionamento da ferrovia, como a expansão da EFC pode afetar as comunidades, a necessidade das agências federais e governo trabalharem juntos para minimizarem os impactos.
Em relação ao Plano de Segurança que foi sugerido na mesma audiência por uma empresa contratada pela Vale, James o reprovou e explicou que o documento deveria apresentar inicialmente, como se dá o acesso das ferrovias, e o relatório deveria apresentar claramente os locais em que os adolescentes estavam subindo nos trens e se havia registro de acidentes.

Na opinião dele, o relatório não fez isso, e havia poucos detalhes, sem nenhuma menção de acidentes. O segundo requerimento era que fossem apresentadas medidas de prevenção de acidentes e desenvolvimento de mecanismos para prevenir atropelamentos. Para isso, o relatório demonstrou que as locomotivas remotas deveriam ser trancadas, mas não informou nada quanto a impedir atropelamentos.
O relatório do plano, também, deveria demonstrar a possibilidade de os vagões serem cobertos, não tendo citado nada sobre isso. Em relação ao monitoramento mais amplo da Estrada de Ferro, o relatório deveria sugerir ampliar o sistema de iluminação ao longo da ferrovia, o que também não foi proposto pela consultoria contratada pela Vale.

Bertrand também apontou o dedo para a ausência de um plano para instalação de câmeras nos pontos de acesso e de parada, tendo isso ficado limitado aos locais em que as câmeras já haviam sido instaladas. “Não entendo como a ANTT não se preocupa em fiscalizar a segurança das ferrovias. A ocorrência de trens parando ou passando devagar por comunidades, e crianças embarcando irregularmente ou sendo atropeladas é um problema e deveria ser fiscalizada pela agência”.

O relatório deveria descrever o relacionamento da Vale com a segurança pública, não tendo demonstrado nada nesse sentido. O relatório deveria mostrar o relacionamento da Vale com agências de trabalho voltadas à infância e juventude, mas não trouxe dados nesse sentido. “A Vale citou mais os riscos para a empresa que os riscos para crianças e adolescentes”, disse o engenheiro ferroviário.
Outra conclusão do canadense é que o relatório aponta que as causas do fenômeno “Meninos do Trem” são econômicas e sociais, das quais ele também discorda. Na sua visão, a Vale não está disposta a sanar o problema e pondera que está havendo falta de vontade da mineradora em adotar medidas para identifiquem crianças nos vagões, bem como coibir o embarque.

Vale tem tecnologia para evitar embarque clandestino
Ao abordar o tema “administração da ferrovia”, James Bertrand avaliou que as decisões são tomadas por gerências em camadas, e não localmente. E esses gerentes estão desconectados dos problemas locais. Isso dificulta a adoção de medidas, sendo a resposta sempre morosa. Ele não duvida que os funcionários da Vale tenham capacidade de lidar com os problemas e eliminá-los, mas teriam que ser direcionados para isso e receber apoio. James analisou projeto feito pelo departamento de segurança da Vale, concluído em 2012. Estranhamente, disse pouquíssimos funcionários da Vale entrevistados por ele sabiam de sua existência. Para ele, o plano de segurança da mineradora deveria identificar a raiz do problema das crianças e adolescentes embarcando nos seus trens. “A causa principal é que os trens se movem muito devagar e não há seguranças para verificar crianças subindo nos vagões. Isso está causando animosidade entre órgãos. E a Vale está permitindo que esse embarque ilegal ocorra”, opinou.


Em relação ao acesso à ferrovia e aos trens, ele recomenda que a Vale envie equipe de funcionários e que estes simplesmente sigam as determinações da ordem judicial que há em Santa Luzia-MA. De acordo com sua pesquisa, os funcionários da Vale já estão cientes do problema, mas não há documento formal. Quanto às câmeras, sugere torre de filmagens que possibilitem filmagem superior dos vagões em postos estratégicos da ferrovia e recomenda também que a Vale continue realizando o monitoramento das atividades com confecção de relatórios, sempre supervisionada pela ANTT. “A Vale possui tecnologia para identificar temperatura de uma roda do trem a qualquer momento da viagem, portanto, tem tecnologia para prevenir também embarque clandestino”, conclui.
Reportagem: Ulisses Pompeu Foto: Arquivo
Portal Pebinha de Açucar

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