Acordo
entre Vale e Fortescue sacode setor de mineração
Dado
Galdieri/Bloomberg
Mineração: o acordo entre as duas mineradoras inclui
planos para desenvolver joint ventures para criar cerca de 80 milhões a 100
milhões de toneladas por ano
David
Stringer, da Bloomberg
São Paulo - Um pacto entre duas
das maiores produtoras de minério de ferro do mundo promete intensificar a
concorrência entre as quatro principais participantes do setor, justamente em
um momento de projeção de desaceleração da demanda chinesa após a produção de
aço do país atingir o pico.
O acordo entre a brasileira Vale,
a maior fornecedora do mundo, e a Fortescue Metals Group, a quarta maior
exportadora, inclui planos para desenvolver joint ventures para criar cerca de
80 milhões a 100 milhões de toneladas por ano de um produto misturado que
concorreria mais de perto por clientes com as ofertas da BHP
Billiton e da Rio Tinto Group.
Isso permitirá à parceria
Vale-Fortescue fundir o produto de classificação mais elevada da empresa
brasileira com o minério de ferro de qualidade inferior da Fortescue para
atender o padrão de referência que tem maior demanda na China.
A Vale
disse em dezembro que projeta uma produção de minério de ferro em 2016 de 340
milhões a 350 milhões de toneladas, enquanto a Fortescue espera manter as
exportações a uma taxa anual de cerca de 165 milhões de toneladas.
O acordo vai “mais para o lado
agressivo que para o lado defensivo”, disse Cauê Araújo, consultor principal da
SRK Consulting em Sidney, por telefone. A mistura dos dois minérios teria como
foco um segmento do mercado no qual os preços tem sido mais robustos, disse
ele.
“É uma estratégia que permite a
eles ganhar mais dinheiro no espaço da qualidade média. Isso realmente muda o
jogo e nós precisaremos repensar o setor de minério de ferro”.
Queda dos preços
Com a queda de cerca de 67 por
cento dos preços desde o pico de 2011, as quatro grandes produtoras focaram no
aumento das exportações de baixo custo da Austrália e do Brasil para a China,
empurrando as concorrentes menores e de produção mais cara de países como
Suécia e Irã para fora do mercado transoceânico.
O quarteto responderá por cerca
de 77 por cento da oferta internacional neste ano, por isso o acordo poderá
sofrer intervenção antimonopolista da China, segundo a Jefferies.
“Minha visão mais forte seria de
que esse acordo poderia permitir que eles controlassem melhor os preços”, disse
Gordon Johnson, analista da Axiom Capital Management em Nova York, por
telefone. “A segunda reação seria relacionada à Fortescue. Eles estão fazendo
isso porque veem a necessidade de caixa mais adiante”.
A Fortescue manteve algumas
negociações iniciais com órgãos reguladores e não prevê complicações em termos
de concorrência, disse o CEO Nev Power a repórteres na terça-feira em uma
teleconferência. O pacto não é visto como um prelúdio de uma aquisição da
Fortescue pela Vale, disse ele.
Aquisição de participação
Pelo acordo, a Vale assumiria uma
participação de 5 por cento a 15 por cento da Fortescue. Não foi estabelecido
um cronograma para a aquisição e a compra ficaria a critério da Vale, disse
Power à Bloomberg Television nesta terça-feira em entrevista. As duas empresas
poderiam cooperar também em desenvolvimentos futuros de novas minas, disse ele.
A BHP não vê o acordo como “algo
que esperaríamos que nos impactasse diretamente”, disse o presidente de
operações e da divisão australiana de minerais da produtora, Mike Henry, a
repórteres, nesta terça-feira, em paralelo a uma conferência em Perth,
Austrália. A Rio Tinto preferiu não comentar.
O acordo provavelmente tornaria
mais complexo para a BHP ou para a Rio mirar qualquer aquisição futura da
Fortescue, segundo Wayne Gordon, diretor-executivo para commodities e câmbio da
UBS Wealth Management, por telefone, de Cingapura.
A cooperação entre as duas
produtoras visa a desenvolver “novas plataformas para um futuro desenvolvimento
de mina e a oferecer um novo produto alternativo de classe mundial à indústria
siderúrgica chinesa”, disse Peter Poppinga, diretor-executivo de ferrosos da
Vale, em comunicado. “Estamos olhando mais de 10 anos à frente”.
Embora estejam mirando as usinas
da China, é provável que a Vale e a Fortescue também estejam se posicionando
para competir em outros mercados, segundo Araújo, da SRK. “Um minério de
qualidade média como esse pode ir para o Japão, para a Coreia do Sul”, disse
ele.
“Eles poderiam até mesmo
considerar o mercado da Índia, dependendo de como o setor de minério de ferro
se desenvolver por lá”.
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